Adalberon nunca teve escrúpulos. Aos quarenta e dois anos tornara-se um
comerciante rico e influente na pequena ilha onde sua palavra era quase lei.
Amealhou sua fortuna a custa de trapaças e mentiras. Ca...
usara grande sofrimento a muitos rivais que hoje
padeciam na miséria enquanto sua riqueza somente aumentava. Hoje, porém daria o
golpe mais espetacular já imaginado pela sua mente treinada em maquinações
perversas. Iria até o conselho dos cidadãos e com seu testemunho falso acusaria
Cleto de enriquecimento ilícito por roubo nos cofres públicos.
Era uma
mentira muito bem urdida por ele próprio. O rapaz tornara-se seu melhor amigo e
ele melhor que ninguém sabia de sua inocência. Porém Tormena, a mulher de Cleto,
tornara-se sua obsessão. Faria seu juramento e de antemão sabia que não haveria
chance para o jovem. Seria degredado e morreria longe da terra onde nascera
deixando a mulher e a fortuna nas mãos de quem era seu amigo e confidente, ele.
Passara a noite em claro planejando a forma mais eloqüente de prestar seu
testemunho e orgulhava-se intimamente de sua capacidade e inteligência. No dia
anterior fora visitar o prisioneiro e jurara defende-lo.
- Tudo farei meu
caro, para que saia ileso dessa acusação vil que te impingem!
- O rapaz
comovido agradeceu:
- Muito obrigado meu amigo, sei de vosso apreço por mim e
minha família e confio que com seu desmentido, amanhã mesmo estarei livre junto
aos meus. Porém, se algo der errado prometa-me que cuidará de meus negócios para
que a querida Tormena não seja enganada por pessoas inescrupulosas.
- A
resposta veio aliada a um abraço apertado
- Não te atormentes tudo farei por
ti e tua bela esposa. Sairás livre! Ao final do julgamento, Adalberon sorria
intimamente, tudo ocorrera da forma planejada. Apenas uma coisa o incomodava, a
lembrança do olhar que Cleto lhe lançara no momento em que jurara serem verdades
as mentiras apregoadas Foi um misto de surpresa, ódio e repulsa que ele sentira
de forma profunda. Mas isso passaria o que importava era poder ser abraçado pela
bela mulher, para ela, juraria ter feito de tudo para salvar seu marido, mas as
provas eram concludentes demais. Ela, inocente e desamparada não tardaria a
perdoá-lo. Então seriam felizes. Ao chegar à residência do casal notou um
movimento estranho, ouviu gritos, acalmou-se, no entanto. Era natural que a
jovem se desesperasse diante do ocorrido. Uma das escravas da casa, ao vê-lo,
correu ao seu encontro:
- Senhor! Dona Tormena se enforcou!
- A surpresa o
fez cambalear, o chão sumiu de seus pés. A única lembrança que teve foi do olhar
lançado pelo jovem Cleto a ele, uma dor profunda tomou seu peito. Caiu, enquanto
a escrava tentava segura-lo. Nada havia a ser feito. O coração do ambicioso
homem parara definitivamente. Durante muitos anos Adalberon expiou seus inúmeros
delitos em zonas espirituais inferiores. Hoje nos trabalhos onde se apresenta
como o Exu Tata Caveira, mostra-se taciturno e equilibrado, tem um dos períodos
mais longos de expiação em sua lei. Tornou-se então um conselheiro fiel e justo
e, sempre que possível, enaltece as virtudes da verdadeira
amizade.
Sarava Sr. Tata Caveira!
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