Desenvolvimento da mediunidade. Mudança de caligrafia. - Perda e
suspensão da mediunidade
Desenvolvimento da mediunidade
Ocupar-nos-emos aqui, especialmente, com os médiuns escreventes, por
ser o gênero de mediunidade mais espalhado e, além disso, porque é, ao mesmo tempo,
o mais simples, o mais cômodo, o que dá resultados mais satisfatórios e completos. E
também o que toda gente ambiciona possuir. Infelizmente, até hoje, por nenhum
diagnóstico se pode inferir, ainda que aproximadamente, que alguém possua essa
faculdade. Os sinais físicos, em os quais algumas pessoas julgam ver indícios, nada têm de infalíveis. Ela se manifesta nas crianças e nos velhos, em homens e mulheres,
quaisquer que sejam o temperamento, o estado de saúde, o grau de desenvolvimento intelectual e moral. Só existe um meio de se lhe comprovar a existência. É experimentar.
Pode obter-se a escrita, como já vimos, com o auxílio das cestas e pranchetas,
ou, diretamente, com a mão. Sendo o mais fácil e, pode dizer-se, o único empregado
hoje, este último modo é o que recomendamos à preferência de todos. O processo é dos
mais simples: consiste unicamente em a pessoa tomar de um lápis e de papel e colocarse na posição de quem escreve, sem qualquer outro preparativo. Entretanto, para que alcance bom êxito, muitas recomendações se fazem indispensáveis.
Como disposição material, recomendamos se evite tudo o que possa
embaraçar o movimento da mão. E mesmo preferível que esta não descanse no papel. A
ponta do lápis deve encostar neste o bastante para traçar alguma coisa, mas não tanto
que ofereça resistência. Todas essas precauções se tomam inúteis, desde que se tenha
chegado a escrever correntemente, porque então nenhum obstáculo detém mais a mão.
São meras preliminares para o aprendiz.
É indiferente que se use da pena ou do lápis. Alguns médiuns preferem a
pena que, todavia, só pode servir para os que estejam formados e escrevem
pausadamente. Outros, porém, escrevem com tal velocidade, que o uso da pena seria
quase impossível, ou, pelo menos, muito incômodo. O mesmo sucede, quando a escrita
e feita às arrancadas e irregularmente, ou quando se manifestam Espíritos violentos, que batem com a ponta do lápis e a quebram, rasgando o papel.
O desejo natural de todo aspirante a médium é o de poder confabular com
os Espíritos das pessoas que lhe são caras; deve, porém, moderara sua impaciência,
porquanto a comunicação com determinado Espírito apresenta muitas vezes dificuldades
materiais que a tornam impossível ao principiante. Para que um Espírito possa
comunicar-se, preciso é que haja entre ele e o médium relações fluídicas, que nem
sempre se estabelecem instantaneamente. Só à medida que a faculdade se desenvolve, é
que o médium adquire pouco a pouco a aptidão necessária para pôr-se em comunicação
com o Espírito que se apresente. Pode dar-se, pois, que aquele com quem o médium
deseje comunicar-se, não esteja em condições propícias a fazê-lo, embora se ache
presente, como também pode acontecer que não tenha possibilidade, nem permissão
para acudir ao chamado que lhe é dirigido. Convém, por isso, que no começo ninguém
se obstine em chamar determinado Espírito, com exclusão de qualquer outro, pois
amiúde sucede não ser com esse que as relações fluídicas se estabelecem mais
facilmente, por maior que seja a simpatia que lhe vote o encarnado. Antes, pois, de
pensar em obter comunicações de tal ou tal Espírito, importa que o aspirante leve a
efeito o desenvolvimento da sua faculdade, para o que deve fazer um apelo geral e
dirigir-se principalmente ao seu anjo guardião.
Não há, para esse fim, nenhuma fórmula sacramental. Quem quer que pretenda
indicar alguma pode ser tachado, sem receio, de impostor, visto que para os Espíritos a forma nada vale. Contudo, a evocação deve sempre ser feita em nome de Deus. Poderse- á fazê-la nos termos seguintes, ou outros equivalentes: Rogo a Deus Todo-Poderoso que permita venha um bom Espírito comunicar-se comigo e fazer-me escrever; peço também ao meu anjo de guarda se digne de me assistir e de afastar os maus Espíritos.
Formulada a súplica, é esperar que um Espírito se manifeste, fazendo escrever alguma
coisa. Pode acontecer venha aquele que o impetrante deseja, como pode ocorrer
também venha um Espírito desconhecido ou o anjo de guarda. Qualquer que ele seja, em
todo caso, dar-se-á conhecer, escrevendo o seu nome. Mas, então apresenta-se a
questão da identidade, uma das que mais experiência requerem, por isso que poucos
principiantes haverá que não estejam expostos a ser enganados. Dela trataremos adiante, em capítulo especial.
Quando queira chamar determinados Espíritos, é essencial que o médium
comece por se dirigir somente aos que ele sabe serem bons e simpáticos e que podem ter motivo para acudir ao apelo, como parentes, ou amigos.
Neste caso, a evocação pode ser formulada assim: Em nome de Deus Todo-
Poderoso peço que tal Espírito se comunique comigo, ou então: Peço a Deus Todo-
Poderoso permita que tal Espírito se comunique comigo; ou qualquer outra fórmula
que corresponda ao mesmo pensamento. Não é menos necessário que as primeiras
perguntas sejam concebidas de tal sorte que as respostas possam ser dadas por um sim
ou um não, como por exemplo: Estas aí? Queres responder-me? Podes fazer-me
escrever? etc. Mais tarde essa precaução se torna inútil. No princípio, trata-se de
estabelecer assim uma relação. O essencial é que a pergunta não seja fútil, não diga
respeito a coisas de interesse particular e, sobretudo, seja a expressão de um sentimento de benevolência e simpatia para com o Espírito a quem é dirigida. (Veja-se adiante o capítulo especial sobre as Evocações.)
Coisa ainda mais importante a ser observada, do que o modo da evocação,
são a calma e o recolhimento, juntas ao desejo ardente e à firme vontade de conseguir-se o intuito. Por vontade, não entendemos aqui uma vontade efêmera, que age com intermitências e que outras preocupações interrompem a cada momento; mas, uma
vontade séria, perseverante, contínua, sem impaciência, sem febricitação. A solidão, o silêncio e o afastamento de tudo o que possa ser causa de distração favorecem o
recolhimento. Então, uma só coisa resta a fazer: renovar todos os dias a tentativa, por dez minutos, ou um quarto de hora, no máximo, de cada vez, durante quinze dias, um mês, dois meses e mais, se for preciso. Conhecemos médiuns que só se formaram depois de seis meses de exercício, ao passo que outros escrevem correntemente logo da
primeira vez.
Para se evitarem tentativas inúteis, pode consultar-se, por outro médium,
um Espírito sério e adiantado. De;, porém, notar-se que, quando alguém inquire dos
Espíritos se é médium ou não, eles quase sempre respondem afirmativamente, o que não
impede que os ensaios resultem infrutíferos. Isso se explica naturalmente. Desde que se faça ao Espírito uma pergunta de ordem geral, ele responde de modo geral. Ora, como se sabe, nada é mais elástico do que a faculdade mediúnica, pois que pode apresentar-se sob as mais variadas formas e em graus muito diferentes. Pode, portanto, uma pessoa ser médium, sem dar por isso, e num sentido diverso daquele que imagina. A esta pergunta vaga: Sou médium? O Espírito pode responder - Sim. A esta outra mais precisa: Sou médium escrevente? Pode responder - Não.
Deve também levar-se em conta a natureza do Espírito a quem é feita a
pergunta. Há-os tão levianos e ignorantes, que respondem a torto e a direito, como
verdadeiros estúrdios. Por isso aconselhamos se dirija o interrogante a Espíritos
esclarecidos, que, geralmente, respondem de boa-vontade a essas perguntas e indicam o
melhor caminho a seguir-se, desde que haja possibilidade de bom êxito.
Um meio que muito freqüentemente dá bom resultado consiste em
empregar-se, como auxiliar de ocasião, um bom médium escrevente, maleável, já
formado. Pondo ele a mão, ou os dedos, sobre a mão do que deseja escrever, raro é que
este último não o faça imediatamente. Compreende-se o que em tal circunstância se
passa: a mão que segura ó lápis se torna, de certo modo, um apêndice da mão do
médium, como o seria uma cesta, ou uma prancheta. Isto, porém, não impede que esse
exercício seja muito útil, quando é possível empregá-lo, visto que, repetido amiúde e
regularmente, ajuda a vencer o obstáculo material e provoca o desenvolvimento da
faculdade. Algumas vezes, basta mesmo que o médium magnetize, com essa intenção, a
mão e o braço daquele que quer escrever. Não raro até limitando-se o magnetizador a
colocar a mãono ombro daquele, temo-lo visto escrever prontamente sob essa influência. Idêntico efeito pode também produzir-se sem nenhum contacto, apenas por ato da vontade do auxiliar. Concebe-se facilmente que a confiança do magnetizador no seu poder, para produzir tal resultado, há de aí desempenhar papel importante e que um magnetizador incrédulo fraca ação ou nenhuma, exercerá.
O concurso de um guia experimentado é, além disso, muito útil, às vezes, para
apontar ao principiante uma porção de precauçõezinhas que ele freqüentemente
despreza, em detrimento da rapidez de seus progressos. Sobretudo o é para esclarecê-lo sobre a natureza das primeiras questões e sobre a maneira de propô-las. Seu papel é o de um professor, que o aprendiz dispensará logo que esteja bem habilitado.
Outro meio, que também pode contribuir fortemente para desenvolver a
faculdade, consiste em reunir-se certo número de pessoas, todas animadas do mesmo
desejo e comungando na mesma intenção. Feito isso, todas simultaneamente, guardando
absoluto silêncio e num recolhimento religioso, tentem escrever, apelando cada um para o seu anjo de guarda, ou para qualquer Espírito simpático. Ou, então, uma delas poderá dirigir, sem designação especial e por todos os presentes, um apelo aos bons Espíritos em geral, dizendo por exemplo: Em nome de Deus Todo-Poderoso, pedimos aos bons Espíritos que se dignem de comunicar-se por intermédio das pessoas aqui presentes. E raro que entre estas não haja algumas que dêem prontos sinais de mediunidade, ou que até escrevam correntemente em pouco tempo.
Compreende-se o que em tal caso ocorre. Os que se reúnem com um intento
comum formam um todo coletivo, cuja força e sensibilidade se encontram acrescidas por
uma espécie de influência magnética, que auxilia o desenvolvimento da faculdade. Entre os Espíritos atraídos por esse concurso de vontades estarão, provavelmente, alguns que descobrirão nos assistentes o instrumento que lhes convenha. Se não for este, será outro e eles se aproveitarão desse.
Este meio deve sobretudo ser empregado nos grupos espíritas a que faltam
médiuns, ou que não os possuam em número suficiente.
Têm-se procurado processos para a formação dos médiuns, como se têm
procurado diagnósticos; mas, até hoje nenhum conhecemos mais eficaz do que os que
indicamos. Na persuasão de ser uma resistência de ordem toda material o obstáculo que
encontra o desenvolvimento da faculdade, algumas pessoas pretendem vencê-la por
meio de uma espécie de ginástica quase deslocadora do braço e da cabeça. Não
descrevemos esse processo, que nos vem do outro lado do Atlântico, não só porque
nenhuma prova possuímos da sua eficiência, como também pela convicção que nutrimos
de que há de oferecer perigo para os de compleição delicada, pelo abalo do sistema
nervoso. Se não existirem rudimentos da faculdade, nada poderá produzi-los, nem
mesmo a eletrização, que já foi empregada, sem êxito, com o mesmo objetivo.
No médium aprendiz, a fé não é a condição rigorosa; sem dúvida lhe
secunda os esforços, mas não é indispensável; a pureza de intenção, o desejo e a boavontade bastam. Têm-se visto pessoas inteiramente incrédulas ficarem espantadas de
escrever a seu mau grado, enquanto que crentes sinceros não o conseguem, o que prova
que esta faculdade se prende a uma disposição orgânica.
O primeiro indício de disposição para escrever é uma espécie de frêmito no
braço e na mão. Pouco a pouco, a mão é arrastada por uma impulsão que ela não logra
dominar. Muitas vezes, não traça senão riscos insignificantes; depois, os caracteres se desenham cada vez mais nitidamente e a escrita acaba por adquirir a rapidez da escrita ordinária. Em todos os casos, deve-se entregar a mão ao seu movimento
natural e não oferecer resistência, nem propeli-la.
Alguns médiuns escrevem desde o princípio correntemente com facilidade, às
vezes mesmo desde a primeira sessão, o que é muito raro. Outros, durante muito tempo,
traçam riscos e fazem verdadeiros exercícios caligráficos. Dizem os Espíritos que é para lhes soltar a mão. Em se prolongando demasiado esses exercícios, ou degenerando na grafia de sinais ridículos, não há duvidar de que se trata de um Espírito que se diverte, porquanto os bons Espíritos nunca fazem nada que seja inútil. Nesse caso, cumpre redobrar de fervor no apelo à assistência destes. Se, apesar de tudo, nenhuma alteração houver, deve o médium parar, uma vez reconheça que nada de sério obtém. A tentativa pode ser feita todos os dias, mas convém cesse aos primeiros sinais equívocos, a fim de não ser dada satisfação aos Espíritos zombeteiros.
A estas observações, acrescenta um Espírito: "Há médiuns cuja faculdade não
pode produzir senão esses sinais. Quando, ao cabo de alguns meses, nada mais obtém
do que coisas insignificantes, ora um sim, ora um não ou letras sem conexão, é inútil
continuarem, será gastar papel em pura perda. São médiuns, mas médiuns improdutivos.
Demais, as primeiras comunicações obtidas devem considerar-se meros exercícios,
tarefa que é confiada a Espíritos secundários. Não se lhes deve dar muita importância,visto que procedem de Espíritos empregados, por assim dizer, como mestres de escrita,para desembaraçarem o médium principiante. Não creiais sejam alguma vez Espíritos elevados os que se aplicam a fazer com o médium esses exercícios preparatórios;acontece, porém, que, se o médium não colima um fim sério, esses Espíritos continuam e acabam por se lhe ligarem. Quase todos os médiuns passaram por este cadinho, para se desenvolverem; cabe-lhes fazer o que seja preciso a captarem a simpatia dos Espíritos verdadeiramente superiores."
O escolho com que topa a maioria dos médiuns Principiantes é o de terem
de haver-se com Espíritos inferiores e devem dar-se por felizes quando são apenas
Espíritos levianos. Toda atenção precisam pôr em que tais Espíritos não assumam
predomínio, porquanto, em acontecendo isso, nem sempre lhes será fácil desembaraçarse
deles. É ponto este de tal modo capital, sobretudo em começo, que, não sendo
tomadas as precauções necessárias, podem perder-se os frutos das mais belas
faculdades.
A primeira condição é colocar-se o médium, com fé sincera, sob a proteção de
Deus e solicitar a assistência do seu anjo de guarda, que é sempre bom, ao passo que os espíritos familiares, por simpatizarem com as suas boas ou más qualidades, podem ser levianos ou mesmo maus.
A segunda condição é aplicar-se, com meticuloso cuidado, a reconhecer, por
todos os indícios que a experiência faculta, de que natureza são os primeiros Espíritos que se comunicam e dos quais manda a prudência sempre se desconfie. Se forem suspeitos esses indícios, dirigir fervoroso apelo ao seu anjo de guarda e repelir, com todas as forças, o mau Espírito, provando-lhe que não conseguirá enganar, a fim de que ele desanime. Por isso é que indispensável se faz o estudo prévio da teoria, para todo aquele que queira evitar os inconvenientes peculiares à experiência. A este respeito,instruções muito desenvolvidas se encontram nos capítulos Da obsessão e Da identidade dos Espíritos. Limitar-nos-emos aqui a dizer que, além da linguagem, podem considerar-se provas infalíveis da inferioridade dos Espíritos. todos os sinais, figuras,emblemas inúteis, ou pueris; toda escrita extravagante, irregular, intencionalmente torturada, de exageradas dimensões, apresentando formas ridículas e desusadas. A escrita pode ser muito má, mesmo pouco legível, sem que isso tenha o que quer que seja de insólito, porquanto é mais questão do médium que do Espírito. Temos visto médiuns de tal maneira enganados, que medem a superioridade dos Espíritos pelas dimensões das letras e que ligam grande importância às letras bem talhadas, como se foram letras de imprensa, puerilidade evidentemente incompatível com uma superioridade real.
Mudança de caligrafia
Um fenômeno muito comum nos médiuns escreventes é a mudança da
caligrafia, conforme os Espíritos que se comunicam. E o que há de mais notável é que
uma certa caligrafia se reproduz constantemente com determinado Espírito, sendo às
vezes idêntica à que este tinha em vida. Veremos mais tarde as conseqüências que daí se podem tirar, com relação à identidade dos Espíritos. A mudança da caligrafia só se dá com os médiuns mecânicos ou semimecânicos, porque neles é involuntário o movimento da mão e dirigido unicamente pelo Espírito. O mesmo já não sucede com os médiuns puramente intuitivos, visto que, neste caso, o Espírito apenas atua sobre o pensamento,sendo a mão dirigida, como nas circunstâncias ordinárias, pela vontade do médium.
Mas, a uniformidade da caligrafia, mesmo em se tratando de um médium mecânico, nada
absolutamente prova contra a sua faculdade, porquanto a variação da forma da escrita
não é condição absoluta, na manifestação dos Espíritos: deriva de uma aptidão especial, de que nem sempre são dotados os médiuns, ainda os mais mecânicos. Aos que a possuem damos a denominação de Médiuns polígrafos.
Perda e suspensão da mediunidade
A faculdade mediúnica está sujeita a intermitências e a suspensões
temporárias, quer para as manifestações físicas, quer para a escrita. Damos a seguir as respostas que obtivemos dos Espíritos a algumas perguntas feitas sobre este ponto:
1ª Podem os médiuns perder a faculdade que possuem?"Isso freqüentemente acontece, qualquer que seja o gênero da faculdade. Mas,
também, muitas vezes apenas se verifica uma interrupção passageira, que cessa com a
causa que a produziu."
2ª Estará no esgotamento do fluido a causa da perda da mediunidade?"Seja qual for a faculdade que o médium possua, ele nada pode sem o concurso
simpático dos Espíritos. Quando nada mais obtém, nem sempre é porque lhe falta a
faculdade; isso não raro se dá, porque os Espíritos não mais querem, ou podem servir-se dele."
3ª Que é o que pode causar o abandono de um médium, por parte dos Espíritos?"O que mais influi para que assim procedam os bons Espíritos é o uso que o
médium faz da sua faculdade. Podemos abandoná-lo, quando dela se serve para coisas
frívolas, ou com propósitos ambiciosos; quando se nega a transmitir as nossas palavras,ou os fatos por nós produzidos, aos encarnados que para ele apelam, ou que têm necessidade de ver para se convencerem. Este dom de Deus não é concedido ao médium para seu deleite e, ainda menos, para satisfação de suas ambições, mas para o fim da sua melhora espiritual e para dar a conhecer aos homens a verdade. Se o Espírito verifica que o médium já não corresponde às suas vistas e já não aproveita das instruções nem dos conselhos que lhe dá, afasta-se, em busca de um protegido mais digno."
4ª Não pode o Espírito que se afasta ser substituído e, neste caso, não se
conceberia a suspensão da faculdade?"Espíritos não faltam, que outra coisa não desejam senão comunicar-se e que,
portanto, estão sempre prontos a substituir os que se afastam; mas, quando o que
abandona o médium é um Espírito bom, pode suceder que o seu afastamento seja apenas
temporário, para privá-lo, durante certo tempo, de toda comunicação, a fim de lhe
provar que a sua faculdade não depende dele médium e que, assim, razão não há para
dela se vangloriar. Essa impossibilidade temporária também serve para dar ao médium a
prova de que ele escreve sob uma influência estranha, pois, de outro modo, não haveria intermitências."
"Em suma, a interrupção da faculdade nem sempre é uma punição; demonstra às
vezes a solicitude do Espírito para com o médium, a quem consagra afeição, tendo por
objetivo proporcionar-lhe um repouso material de que o julgou necessitado, caso em que não permite que outros Espíritos o substituam."
5ª Vêem-se, no entanto, médiuns de muito mérito, moralmente falando, que
nenhuma necessidade de repouso sentem e que muito se contrariam com essas
interrupções, cujo fim lhes escapa."Servem para lhes pôr a paciência à prova e para lhes experimentar a perseverança. Por isso é que os Espíritos nenhum termo, em geral, assinam à suspensão da faculdade mediúnica; é para verem se o médium descoroçoa. E também para lhe dar tempo de meditar as instruções recebidas. Por essa meditação dos nossos ensinos é que reconhecemos os espíritas verdadeiramente sérios. Não podemos dar esse nome aos que, na realidade, não passam de amadores de comunicações."
6ª Será preciso então, que, nesse caso, o médium prossiga nas suas tentativas
para escrever?"Se o Espírito lhe aconselhar isto, deve; se lhe disser que se abstenha, não deve."
7ª Haveria meio de abreviar essa prova?"A resignação e a prece. Demais, basta que faça cada dia uma tentativa de alguns
minutos, visto que inútil lhe será perder o tempo em ensaios infrutíferos. A tentativa só deve ter por fim verificar se já recobrou, ou não, a faculdade."
8ª A suspensão da faculdade não implica o afastamento dos Espíritos que
habitualmente se comunicam?"De modo algum. O médium se encontra então na situação de uma pessoa que perdesse temporariamente a vista, a qual, por isso, não deixaria de estar rodeada de seus amigos, embora impossibilitada de os ver. Pode, portanto, o médium e até mesmo deve continuar a comunicar-se pelo pensamento com seus Espíritos familiares e persuadir-se de que é ouvido. Se é certo que a falta da mediunidade pode privá-lo das comunicações ostensivas com certos Espíritos, também certo é que não o pode privar das comunicações morais."
9ª Assim, a interrupção da faculdade mediúnica nem sempre traduz uma censura
da parte do Espírito?"Não, sem dúvida, pois que pode ser uma prova de benevolência."
10ª Por que sinal se pode reconhecer a censura nesta interrupção?
"Interrogue o médium a sua consciência e inquira de si mesmo qual o uso que
tem feito da sua faculdade, qual o bem que dela tem resultado para os outros, que
proveito há tirado dos conselhos que se lhe têm dado e terá a resposta."
11ª O médium que ficou impossibilitado de escrever poderá recorrer a outro
médium?"Depende da causa da interrupção, que tem por fim, amiúde, deixar-vos algum tempo sem comunicações, depois de vos terem dado conselhos, a fim de que vos não habitueis a nada fazer senão com o nosso concurso. Se este for o caso, ele nada obterá recorrendo a outro médium, o que também ocorre com o fim de vos provar que os
Espíritos são livres e que não está em vossas mãos obrigá-los a fazer o que queirais.
Ainda por esta razão é que os que não são médiuns nem sempre recebem todas as
comunicações que desejam."
NOTA. Deve-se efetivamente observar que aquele que recorre a terceiro para
obter comunicações, não obstante a qualidade do médium, muitas vezes nada de
satisfatório consegue, ao passo que doutras vezes as respostas são muito explicitas. Isso tanto depende da vontade do Espírito, que ninguém coisa alguma adianta mudando de médium. Os próprios Espíritos como que dão, a esse respeito, uns aos outros a palavra de ordem, porquanto o que não se obtiver de um, de nenhum mais se obterá. Cumpre então que nos abstenhamos de insistir e de impacientar-nos, se não quisermos ser vítimas de Espíritos enganadores, que responderão, dado procuremos à viva força uma resposta, deixando os bons que eles o façam, para nos punirem a insistência.
12ª Com que fim a Providência outorgou de maneira especial, a certos
indivíduos, o dom da mediunidade?
"É uma missão de que se incumbiram e cujo desempenho os faz ditosos. São os
intérpretes dos Espíritos com os homens."
13ª Entretanto, médiuns há que manifestam repugnância ao uso de suas
faculdades.
"São médiuns imperfeitos; desconhecem o valor da graça que lhes é concedida."
14ª Se é uma missão, como se explica que não constitua privilégio dos homens
de bem e que semelhante faculdade seja concedida a pessoas que nenhuma estima
merecem e que dela podem abusar?"A faculdade lhes é concedida, porque precisam dela para se melhorarem, para ficarem em condições de receber bons ensinamentos. Se não aproveitam da concessão,sofrerão as conseqüências. Jesus não pregava de preferência aos pecadores, dizendo ser preciso dar àquele que não tem?"
15ª As pessoas que desejam muito escrever como médiuns, e que não o
conseguem, poderão concluir daí alguma coisa contra si mesmas, no tocante à
benevolência dos Espíritos para com elas?"Não, pois pode dar-se que Deus lhe haja negado essa faculdade, como negado tenha o dom da poesia, ou da música. Porém, se não forem objeto desse favor, podem ter sido de outros."
16ª Como pode um homem aperfeiçoar-se mediante o ensino dos Espíritos,
quando não tem, nem por si mesmo, nem com o auxílio de outros médiuns, os meios de
receber de modo direto esse ensinamento?"Não tem ele os livros, como tem o cristão o Evangelho? Para praticar a moral de Jesus, não é preciso que o cristão tenha ouvido as palavras ao lhe saírem da boca."
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