A obsessão decorrente da
sugestão mental foi perfeitamente descrita por Allan Kardec em “O Livro dos Médiuns”, capítulo
XXIII1, oportunidade em que o Codificador estabeleceu uma
classificação alicerçada na gradação crescente dos efeitos opressivos sobre o
encarnado, tais como a obsessão simples, a fascinação e a subjugação. Assim,
pode-se dizer que no contexto das obsessões complexas, ou seja, aquelas que
ultrapassam os limites da simples sugestão mental, identifica-se um tipo
caracterizado pela presença de verdadeiros artefatos fluídicos desarmonizadores
inseridos na contraparte astral das criaturas, com a finalidade de
produzir, por ressonância vibratória, sintomas estranhos e contundentes,
caracterizados por dores lancinantes, limitações funcionais, enfermidades
degenerativas, tumorais ou comprometimento mental severo.
Esses “aparelhos”, uns mais
simples e de maior tamanho, outros minúsculos e sofisticados, podem ser
considerados pontos de partida de um número expressivo de obsessões espirituais
graves, daí a importância dos espíritas conhecerem detalhadamente o assunto.
Desde a década de 60,
a literatura espírita brasileira, coleciona breves
informações a respeito do assunto, mais precisamente duas, registradas por
autores confiáveis
Talvez, por se tratar
de temática pouco ventilada no contexto doutrinário, a questão tenha caído no
esquecimento, pois a pesquisa experimental não é norma no nosso movimento
espírita, com raras exceções, a exemplo dos trabalhos desenvolvidos pelos
confrades Hernani Guimarães Andrade, Hermínio de Miranda, Lamartine Palhano Jr.
e José Lacerda de Azevedo, este último, o grande estudioso das obsessões
complexas.
Pois bem. Relembremos,
inicialmente, algumas informações canalizadas por médiuns que mere
cem crédito. A saudosa e respeitada médium Ivone
A. Pereira, em sua obra “Recordações da Mediunidade”, 1966 (FEB)2,
descreve um caso acontecido em 1930, em que se percebe nitidamente a presença
desse “aparelho parasita” responsável por gravíssimas conseqüências. Tratava-se
de uma criança com 13 anos de idade, levada pelos pais ao antigo “Centro
Espírita de Lavras”, época em que a própria médium servia de intérprete ao
espírito do Dr. Bezerra de Menezes. A história clínica pode ser assim resumida.
Desde os dois anos, o jovem defrontou-se com deformidades físicas em pernas e
braços, acompanhadas da incapacidade de articular palavras. Para todos os
efeitos, tratava-se de um caso grave de mudez. A saudosa médium assim relata
como o diagnóstico foi feito: “Ao penetrar a sede do Centro, acompanhado pelo
pai, os dois videntes então presentes e também eu mesma fomos concordes em
perceber uma forma escura e compacta cavalgando o rapaz, como se ele nada mais
fosse que uma alimária de sela, visto que até as rédeas e o freio na boca
(grifo nosso) existiam estruturados na mesma sombra escura”. Ora, a forma
escura montada nas costas do garoto nada mais era do que o seu obsessor, antigo
escravo, odiento e vingativo, em virtude do sofrimento que lhe fora imposto pelo
seu senhor de então. Todavia, mediante o tratamento espírita, o jovem ficou
literalmente curado no espaço de trinta dias. E a médium assim finaliza o seu
comentário: “Deslumbrado, o pai do rapaz tornou-se espírita com toda a
família, desejoso de se instruir no assunto, enquanto o filho, falando
normalmente, explicava, sorridente: 'Eu sabia falar, sim, mas a voz não saia
porque uma coisa esquisita apertava minha língua e engasgava a garganta...' Essa
coisa esquisita seria, certamente, o freio forjado com forças
maléficas invisíveis...”

Observem que se tratava de
um caso não resolvido pela medicina tradicional. A evolução prolongada por mais
de 10 anos deixara efeitos marcantes no campo físico do jovem, inclusive a mudez
aparentemente irreversível. No entanto, o esclarecimento a que foi submetida a
entidade espiritual no trabalho desobsessivo e a retirada do freio bucal
(aparelho parasita) contribuíram para reverter o inditoso quadro. Demonstração
inequívoca de que a terapêutica espiritual, quando bem orientada, quando
integrada por tarefeiros altruístas suficientemente treinados e coordenada pelo
Mundo Maior, pode amenizar bastante o sofrimento das enfermidades
complexas.
O
utra referência notável encontra-se na obra “Nos
Bastidores da Obsessão”, 1970 (FEB)3, psicografada pelo respeitável
médium Divaldo Pereira Franco. No capítulo intitulado “Processos Obsessivos”,
pinçamos informações sobre um tipo de aparelho parasita bem mais sofisticado,
provido de recursos eletrônicos e arquitetado por um gênio das sombras. Atentem
para a transcrição de pequeno trecho feito pelo nobre pesquisador espiritual,
Manoel Philomeno da Miranda: “Iremos fazer uma implantação – disse em tom de
inesquecível indiferença o Dr.Teofrastus – de pequena célula
foto-elétrica gravada, de material especial, nos centros da
memória do paciente. Operando sutilmente o perispírito, faremos com que a nossa
voz lhe repita insistentemente a mesma ordem: 'Você vai enloquecer! Suicide-se!'
Somos obrigados a utilizar os mais avançados recursos, desde que estes nos
ajudem a colimar os nossos fins. Esse é um dos muitos processos de que nos
podemos utilizar em nossas tarefas... Estarrecidos, vimos o cruel verdugo
movimentar-se na região cerebral do perispírito do jovem adormecido, com
diversos instrumentos cirúrgicos, e, embora não pudéssemos lograr todos os
detalhes, o silêncio no recinto denotava a gravidade do momento.”

A análise dos dois casos
citados é suficiente para que se fique alerta quanto à possibilidade das
obsessões complexas. No primeiro exemplo, a ação patogênica foi desencadeada por
um aparelho rudimentar, em forma de freio eqüino, fixado na parte interna da
mucosa bucal, a dificultar o desenvolvimento da linguagem. Era um tipo de
aparelho parasita, a bem dizer, grosseiro, forjado com fluídos densificados, mas
muito bem implantado na estrutura anatômica do perispírito, correspondente à
boca no campo orgânico. Caso tal artefato fluídico não tivesse sido
diagnosticado pelos médiuns videntes e retirado naquela oportunidade, certamente
o problema da mudez não teria sido corrigido. No segundo caso, esse aparelho,
como ficou visto, era muito mais delicado, de tamanho reduzido,
auto-funcionante, inserido cuidadosamente por meio de cirurgia em área nobre do
encéfalo, com a finalidade de emitir sugestões subliminares contínuas até romper
o equilíbrio psíquico da pobre vítima e levar-lhe à loucura total e ao
suicídio.
Observem ainda um outro
pormenor, importante fator diferencial na técnica de investigação dos citados
casos. Quando os médiuns fixaram a atenção na criança, logo perceberam a
presença de um campo vibratório denso fortemente imantado ao perispírito do
garoto, como a cavalgar-lhe o dorso. Era o obsessor que ali se encontrava a
manipular as rédeas e o tal freio bucal. De certa forma o diagnóstico não
apresentou dificuldade. A análise clarividente dos médiuns permitiu a
identificação do artifício obsessivo. Todavia, no caso citado por Manoel
Philomeno de Miranda, o diagnóstico exigiria um pouco mais de conhecimento e
traquejo. O diminuto aparelho parasita, semelhante a verdadeiro “chip”
eletrônico incrustado na intimidade do cérebro, sem a presença costumeira do
obsessor ao lado do enfermo, provavelmente dificultaria o diagnóstico da
síndrome. O grupo mediúnico teria de se valer da clarividência espontânea ou
induzida pel
o desdobramento perispirítico, para identificar o minúsculo instrumento cerebral e depois localizar na erraticidade umbralina o espírito responsável.
o desdobramento perispirítico, para identificar o minúsculo instrumento cerebral e depois localizar na erraticidade umbralina o espírito responsável.
Como se deduz, são situações
que requerem um bom nível de treinamento do grupo mediúnico, e, sobretudo, o
concurso de dirigentes afeiçoados às modernas técnicas de investigação do
psiquismo de profundidade. Além do mais, era preciso localizar à distância o
espírito responsável pela cirurgia do implante, para que, uma vez atraído ao
cenário mediúnico, o mesmo fosse submetido ao diálogo esclarecedor e convencido
a retirar, ele próprio, o artefato parasita, oportunidade ofertada pela
misericórdia divina com vistas à recuperação inicial da entidade maléfica
envolvida em
sombras.
No entanto, em se
considerando a sujeição da maioria dos mortais aos processos obsessivos de
repercussão grave, não se deve olvidar as normas sabiamente ofertadas por Manoel
Philomeno de Miranda, na obra anteriormente citada: “– Em qualquer problema
de desobsessão, a parte mais importante e difícil pertence ao paciente, que
afinal de contas é o endividado. A este compete o difícil recurso da insistência
no bem, perseverando no dever e fugindo a qualquer custo aos velhos cultos do
'eu' enfermo, aos hábitos infelizes, mediante os quais volta a sintonizar com os
seus perseguidores que, embora momentaneamente afastados, não estão convencidos
da necesstdade de os libertar. Oração, portanto, mas vigilância, também,
conforme a recomendação de Jesus. A prece oferece o tônico da resistência, e a
vigilância o vigor da dignidade.”
Bibliografia:
1- Allan
Kardec. “O Livro dos Médiuns”, capítulo XXIII, 59ª edição, FEB.
2- Yvone A.
Pereira. “Recordações da Mediunidade”, Capítulo 10, pg. 193, 2ª edição, FEB.
3- Manoel P.
de Miranda & Divaldo P. Franco. “Nos Bastidores da Obsessão”, capítulo 8,
pg.159, 1ª edição, 1970, FEB.
4- Idem, pg.
158.
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